terça-feira, 24 de agosto de 2010

O príncipio do fim


E perguntei-te se também morrias.
E tu disseste: «Sim».
E eu disse-te: «Que vai ser de mim?»
E tu disseste que nesse momento já seria crescido.
E eu disse-te: «Não vejo a relação».
E tu disseste que sim, que havia uma relação.
E eu disse: «Bom».
E tu disseste que todos nós tínhamos de morrer.
E eu perguntei-te se para sempre.
E tu respondeste : «Sim».
E eu disse-te: «Então, e o céu como é?»
E tu disseste que isso era depois.

Sim.

E eu disse que havia de levar-te flores.
E tu perguntaste-me: «Quando?»
E eu respondi: «Quando morreres».
E tu fizeste: «Ah!»
E eu disse que havia de levar-te flores, e disse também: «Papoilas».
E tu disseste-me que era melhor não pensar nisso.
E eu disse-te: «Porquê?»
E tu disseste-me: «Porque sim».
E eu disse: «Bom». E depois perguntei-te se nos íamos encontrar no céu mais tarde.
E tu respondeste-me: «Sim».
E eu disse: «Ainda bem».

Sim.

E depois perguntei-te quem a tinha inventado.
E tu disseste: «Inventado o quê?»
E eu disse: «Essa história da morte».
E tu disseste: «Ninguém».
E eu disse: «E o resto?»
E tu disseste: «Qual resto?»
E eu disse: «Essa história do céu».
E tu disseste: «Ninguém».
E eu disse-te: «É boa». E disse-te ainda: «Pois». E depois disse-te: «Quando morreres, faço da tua barriga um tambor».
E tu disseste-me: «Isso não se diz».
E eu disse-te: «É pecado?»
E tu disseste: «Não».



Arrabal, in "Baal Babilónia" estampa, 1977
trad. Ernesto Sampaio

foto de maria
texto encontrado no Blog "Cinquenta e Três"

sábado, 21 de agosto de 2010

De muito perto



"Palavras, coisas vagamente sujas ou perdoadas. esvoaçando, devassas.
Dedos de muito perto entrelaçados, húmidos, armadilhas, questões de astronomia, coisas vagamente segredadas, voláteis, cheias de azul."
Francisco José Viegas, in Se me comovesse o amor"
foto de maria

quarta-feira, 2 de junho de 2010


Hoje
quando estava a sair de casa
olhei para o relógio e percebi que devias estar p'ra chegar
e então deixei a luz da cozinha acesa
porque é a que gasta menos
para que não encontrasses a casa às escuras na chegada
mas depois pensei melhor
ao chegares
vendo a luz acesa
podias pensar que eu estava em casa a fazer-te uma sandes de atum ou um cachorro
e ias ficar desiludida
porque eu estou a sair
e quando chegares já me fui
e vais sentir a mostarda ou a maionese no canto da boca
mas vai ser mentira
por isso
para não te desiludir
saio deixando atrás de mim a casa escura
para não te magoar

João Negreiros, in «a verdade dói e pode estar errada»

sábado, 29 de maio de 2010

Young Marble Giants

Foi disso que não falamos toda a noite: como teria sido possível ouvir, em devido tempo, o despojamento que - agora- já só do nada nos consegue aproximar às vezes?

in, Jukebox 1&2 " Manuel de Freitas"



quarta-feira, 26 de maio de 2010

Borboletas


Borboletas no estômago, batendo asas contra todas as paredes do corpo - não deixando que ele adormeça, inquieto e insatisfeito, voltado para dentro e para o passado.
in Borboletas, de Francisco José Viegas
foto : a insustentável leveza do ser

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Dizer o quê?

Pelo menos entre nós é assim: não há elogios, não há censuras, raramente há perguntas. Para quê? Há um estar ali que é já tanto. Diz-se sem as palavras e percebe-se que se diz e o que se diz porque o clima, não sei explicar de outra maneira, se torna diferente. Não falamos do que cada um faz: a gente sabe. Do que cada um sente: a gente sabe. Não se fala do sofrimento, não se fala da alegria: a gente conhece. É melhor desta forma.
In, Crónica de muito amor, ALA

sábado, 1 de maio de 2010

Ver-te é como ter á minha frente todo o tempo

Ver-te é como ter á minha frente todo o tempo
é tudo serem para mim estradas largas
estradas onde passa o sol poente
é o tempo parar e eu próprio duvidar mas sem pensar
se o tempo existe se existiu alguma vez
e nem mesmo meço a devastação do meu passado

in, Poesia de Ruy Belo
Foto de jla

terça-feira, 30 de março de 2010

Everything is ours for a few hours


Come with me
into the trees
we'll lay on the grass
and let the hours pass
Take my hand
come back to the land
let's get away
just for one day
Let me see you
stripped
Metropolis
has nothing on this
you're breathing in fumes
i taste when we kiss
Take my hand
come back to the land
where everything's ours
for a few hours
Let me see you
stripped
Let me hear you
make decisions
without your television
let me hear you speaking
just for me
Let me see you
stripped
Let me hear you
make decisions
without your television
let me hear you speaking
just for me
Let me see you
stripped
Foto de " Bresson"
Stripped, Depeche Mode

À tarde no Porto

foto de de ma®ia

quinta-feira, 25 de março de 2010

sábado, 6 de março de 2010

Doze moradas de silêncio

Hoje é dia de coisas simples
(Ai de mim! Que desgraça!
O creme de terra não voltará a aparecer!)
coisas simples como ir contigo ao restaurante
ler o horóscopo e os pequenos escândalos
folhear revistas pornográficas e
demorarmo-nos dentro da banheira
na ladeia pouco há a fazer
falaremos do tempo com os olhos presos dentro das
chávenas
inventaremos palavras cruzadas na areia... jogos
e murmúrios de dedos por baixo da mesa
beberemos café
sorriremos à pessoas e às coisas
caminharemos lado a lado os ombros tocando-se
(se estivesses aqui!)
em silêncio olharíamos a foz do rio
é o brincar agitado do sol nas mãos das crianças
descalças
hoje

foto de de ma®ia
Al Berto

sexta-feira, 5 de março de 2010

Blow

It's oh so quiet, It's oh so still, You're all alone, And so peaceful until...
You fall in love (zing! boom!), The sky up above (zing! boom!, Is caving in (wow! bam!)
You've never been so nuts about a guy You want to laugh, you want to cry, You cross your heart and hope to die 'til it's over and then It's nice and quiet, But soon again, Starts another big riot, You blow a fuse (zing! boom!), The devil cuts loose (zing! boom!) So what's the use (wow! bam!) Of falling in love? It's oh so quiet, It's oh so still, You're all alone, And so peaceful until... You ring the bell (bim! bam!) You shout and you yell (hi ho ho!), You broke the spell Gee, this is swell, you almost have a fit This guy is gorge and i got hit There's no mistake : this is it 'til it's over and then , It's nice and quiet, But soon again, Starts another big riot, You blow a fuse (zing! boom!) the devil cuts loose (zing! boom!), So what's the use (wow! bam!), Of falling in love? The sky caves in ,The devil cuts loose, You blow, blow, blow, blow, blow your fuse Aah! When you fall in love.

foto de de ma®ia
by Bjork

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010



yes!

Agora baixou o sol



Nunca mais voltam os dias de sol, do tempo que nunca acaba, do fim de tarde ao pé de vós.

"maria"
foto de ma®ia

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Tender


Agora que Nick Cave já passou
dos quarenta ( e a nós, Rui, pouco nos falta), nem vale a pena
reparar na dança irrequieta do violino
ou dos actorzinhos de merda
que vieram substituir os punks,
ou skins, outras modas igualmente tristes.
Vinte anos depois - como tu gostas de sublinhar -, não sabemos já o que fazer
à morte, a este inutil sobejo de vida que
deixámos de mostrar aos porteiros da noite
ou do inferno, coisas de que podemos
enfim sorrir. Mas as lágrimas, de
há vinte anos, talvez fossem preferiveis.
in Jukebox 1&2, Manuel de Freitas

Gente sentada


Aqui mesmo ao lado e não consegui bilhetes. Estou mesmo triste.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Lá fomos ao CCVF(Guimarães). Muitos contratempos em total harmonia, one, two, three, four...

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

A-mar

Foi uma tarde perfeita e passei-a contigo.
"maria"
foto de de ma®ia

sábado, 16 de janeiro de 2010

Suspensão


"Os nossos amigos. Já viste. Envelhecem como nós. Às vezes temos dúvidas, eu tenho. Parece-me que o mundo permanece suspenso enquanto me esvaio. Cada vez gosto menos de me ver. Fez-me bem hoje arranjar-me, hesitar entre dois vestidos. Escolhi o que achei que preferes."

in, A casa quieta de "Rodrigo Guedes de Carvalho"

foto de ma®ia

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Os meus recantos


O meu coração agradece, aninhado em ti.
"maria"
foto de ma®ia